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Foto do escritorMeeting Lisboa

Trabalhar para quê?


E se não tivéssemos de trabalhar...?

Se todos tivéssemos meios de prover ao nosso sustento — comida, alojamento, vestuário... — como usaríamos o tempo? Festa, férias, dormir, passeios, recriação ...? Cultura...? Trabalho...?

Na conjuntura actual é já comum encontrar quem viva sem trabalhar (e não apenas reformados). Mas é ainda difícil encontrar quem se sinta realizado sem ter algum tipo de actividade produtiva. Tantos sofrem o desemprego, não por não terem o necessário à sobrevivência, mas por se sentirem inúteis. (E, pela mesma razão, é hoje em dia difícil encontrar uma mãe que se sinta inteiramente realizada no cuidado dos filhos e da casa.)

Mas, por outro lado, quantas vezes o trabalho é sentido como asfixiante, alienante. Tantos recém-licenciados em empresas de consultadoria, distribuição, ou sociedades de advogados; tantos nos hospitais; trabalhando horas infinitas, em que do dia sobeja apenas um mínimo para comer e dormir — só o que é preciso para conseguir voltar a trabalhar. Quantas depressões nascem deste contexto, e quantas rupturas familiares...?

É certeira pois a concepção de Hannah Arendt, que vê o trabalhador moderno como um animal — o animal laborans — que trabalha para poder consumir e consome (não apenas alimento e repouso, mas também férias e actividades culturais), consome para poder trabalhar, só para isso, outra vez, mais; e mais, outra vez... Neste quadro, nessas empresas — mas também, por contágio, noutros meios improváveis, como a Escola, a Justiça, a Universidade — cada um dos co-laboradores, tal como um animal, é medido pela sua “força de trabalho”, ou seja, pelo seu rendimento — que é uma grandeza física que mede a quantidade do que é produzido por unidade de tempo (não a qualidade do que é produzido). E depois, esse co-laborador, logo que a força de trabalho diminui, é descartado, substituído, como uma ferramenta velha. Todo o historial de trabalho, o que se aprendeu, parece não ter qualquer valor, qualquer propósito, ao ponto de parecer melhor ser estúpido — fechado na tarefa que, à vez, se tem entre mãos.

Qual é então hoje o “bem” do trabalho? Ou, como se pode trabalhar bem? De modo a realizar-me, mas sem me animalizar... Será só uma questão de equilíbrio entre trabalho e descanso...? (E ocorre perguntar a propósito: o que é descansar bem? Divertir-me, dormir, cuidar da saúde...?) É outra vez só uma questão de quantidades? Ou é uma questão de atitude, de espírito, poder-se-ia dizer?

Não se trata de reivindicar, sindicalisticamente, o direito a um trabalho mais humano (tanto mais que quem trabalha por conta própria sente o mesmo tipo de tensão), mas, no fundo, de perceber o que pedimos ao trabalho, como o podemos saborear apropriadamente e o que é que a sociedade precisa do trabalhador (porque a sociedade está interessada no melhor de mim, a sociedade ganha mais em eu dar o melhor de mim, que é aquilo que apenas eu tenho para dar, e não apenas o que outros, ou máquinas, também podem fazer). Em suma: como se pode hoje trabalhar bem, com justa satisfação pessoal e com real e global utilidade à sociedade?

Para responder a estas e outras mordentes perguntas a Associação Meeting Lisboa convidou Eduardo Marçal Grilo e Giorgio Vittadini.

Marçal Grilo foi Ministro da Educação entre 1995 e 1999. É doutorado em Engenharia Mecânica, e foi, nomeadamente, consultor do Banco Mundial na área da Educação, Presidente do Conselho Nacional de Educação e administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

Vittadini é doutorado em Estatística Metodológica, professor titular de Estatística na Università degli Studi di Milano-Bicocca e presidente da Fondazione per la Sussidiarietà.

O encontro acontecerá no próximo sábado, dia 4 de fevereiro, às 18h30, no Auditório da UACS (Rua Castilho, 14).

À plateia será dada, no final, a oportunidade de dirigir perguntas aos conferencistas.


Pedro Abreu


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