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Foto do escritorMeeting Lisboa

O que é que vês?

A primeira vez que me cruzei com Takashi Paulo Nagai foi através de uma filmagem sua a caminhar por cima dos destroços causados pela bomba atómica de Nagasaki. Parte da sua vida jazia também naqueles escombros. Como foi possível ele ter sobrevivido àquilo? E, mais ainda, deixar-se filmar assim, diante de um cenário de total destruição? Que significado tinha? No meio daquele deserto atómico, naquela solidão imensa, ele o que era? Mesmo quando perdeu tudo, inclusive a própria mulher, eis que ele, como uma plantinha que volta a florescer, com a sua fé em Cristo, inicia uma vida nova, que não é só para ele, mas para todos. Fui-me apercebendo que algo extraordinário tinha ocorrido na vida destes dois esposos. 

Midori era profundamente católica, praticando a fé trazida há 475 anos por São Francisco Xavier quando chegou ao Japão, e guardada ao longo de tantos séculos de acérrima perseguição. No último ano da faculdade de Medicina, Takashi vai hospedar-se em casa da família de Midori, na região de Urakami, em busca de um sentido para a sua vida, para poder ver o que é a fé vivida. Midori casa-se com Takashi e reza todos os dias pela sua conversão. Takashi vive com um olhar aberto e intenso diante do real. Descobre que em todas as casas da aldeia há um crucifixo na sala, bem como vários símbolos religiosos que tinham sido transmitidos clandestinamente ao longo de gerações, por pessoas que arriscaram a própria vida para preservar a fé. Tudo suscitava um grande sentido de respeito e de admiração.

Ao olhar para as pessoas de Urakami, Takashi «conservava no coração não tanto a nostalgia de um Éden Celeste que não lhe pertencia, mas tratava-se mais propriamente de um verdadeiro desejo de uma religiosidade sincera» (in «Aquilo que Nunca Morre. O caminho de um homem», 2024, Paulus Editora). Será este «verdadeiro desejo de uma religiosidade sincera» que será o percursor e pedra de toque de um caminho marcado por uma originalidade que permitirá enfrentar as circunstâncias, ainda que devastadoras, com um novo olhar.

Esse percurso estará contado na exposição «Takashi e Midori Nagai: um caminho rumo àquilo que nunca morre». Convido a ver.

 

António Paulo Rebelo

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