Gratuidade e partilha: são estes os princípios fundadores do Banco Farmacêutico Portugal. Para comemorar os seus 10 anos de existência, esta associação foi protagonista do primeiro
encontro do MLx 2018, com o objectivo de perceber como é que estes valores se traduzem noutras obras da sociedade civil, como o Banco Alimentar ou o Vale de Acór.
Para Maria Manuel Seabra da Costa, gestora, a gratuidade pode e deve estar presente no meio empresarial e no processo de decisão de um gestor: “o meu processo de decidir que iogurte comprar, ou o de um administrador de uma empresa decidir onde construir a próxima fábrica é exactamente o mesmo: [1] tomo em conta o meu contexto; [2] prevejo os diferentes cenários e resultados possíveis; e [3] estabeleço critérios/valores de decisão. Quando vejo que determinada decisão está longe da gratuidade e do bem comum, é porque estabeleci uma janela muito fechada do contexto, centrada em mim”.
A experiência de anos à frente do Banco Alimentar, que vive do trabalho voluntário e luta contra o desperdício dos bens essenciais, trouxe a Isabel Jonet a mesma intuição sobre a experiência da partilha: “ter o coração preso é a certeza de que fazemos parte uns dos outros e de que construímos o bem comum”.
Para Maria Manuel há um desperdício maior: o tempo. Lembra que quem lidera é chamado a uma responsabilidade maior na relação com os seus colaboradores: “se um chefe pede uma coisa às 6 da tarde de sexta-feira para as 9h de segunda, sabe que eu vou estar ali grande parte do meu tempo livre”. E sublinha a gravidade do desperdício deste recurso: “o tempo não é substituível, é irrepetível. Aquela pessoa vai ter muito mais sextas-feiras, mas aquela não”.
É no tempo livre que a experiência de gratuidade mais claramente se exprime. A essência da gratuidade é explicada pelo Padre Pedro Quintela (Presidente do Vale de Acór, instituição que trabalha no âmbito da recuperação de toxicodependentes): “É a criação, é a ordem da criação. No princípio, Deus viu que a Terra estava vazia e informe e disse: ‘Faça se!’. Deus não criou a Terra porque estava deprimido e o psicólogo mandou, para se sentir melhor, ou porque estava desempregado e precisava de se sentir útil. O gesto de gratuidade não é um gesto de neutralidade. Deus viu que a Terra estava vazia e colocou de Si, da Sua existência, no meio dos homens”.
É também esta a convicção de Sergio Daniotti, Presidente do Banco Farmacêutico de Itália: “Já houve quem propusesse fazer a recolha anual de medicamentos sem voluntários, mas nunca quisemos. Continuamos convictos de que o gesto mais importante é esta jornada, não por causa do número de medicamentos que se recolhem, mas porque o valor está em convidar quem entra na farmácia a fazer um donativo. Nós damos e convidamos a dar porque somos seguidores de Cristo e sabemos que Cristo nos deu o dom de Si”.
Inês Avelar
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