“Vivemos num tempo apressado e tendencialmente superficial. Há toda uma vertigem que contraria o humano. Nós fomos feitos para mais, para desejar a plenitude, e à nossa volta parece que tudo nos reduz, que nos atrofia. Nesta aventura de fazermos o Meeting estamos sempre à procura de assuntos que nos obriguem a parar e a pensar.”
Quem o diz é Aura Miguel, jornalista da RR e desde 2016 Presidente do Meeting, em entrevista ao Imprevisto.
Como surgiu o tema deste ano?
No último Meeting, cujo tema era igualmente desafiador – do amor ninguém foge –, uma das intervenções de fundo partiu de uma médica neonatologista que trabalha com crianças em situações de grande fragilidade, entre a vida e a morte, e que deu um testemunho poderoso quer da sua relação com o mistério da dor e do sofrimento, quer da maneira como via os pais dessas crianças, paradoxalmente, a crescerem naquele contexto de sofrimento. Pais que focam o coração naquilo que lhes acontece, nas circunstâncias que Deus os faz viver. Não as que escolhem. E para definir isso usou uma frase muito forte: do amor ninguém foge, porque ser livre é ter o coração preso.
E como é que se materializa um tema destes em exposições, conferências, encontros, num
encontro-meeting?
O primeiro passo é que cada um dos que se entusiasma em fazer o Meeting se deixe provocar por isso, porque quanto mais abertos às circunstâncias que Deus nos manda mais podemos viver a disponibilidade e atenção que permite seguir em frente. Quando se vive com entusiasmo saem frutos; muitas vezes da simplicidade de quem está mais sensibilizado para se deixar tocar pelas circunstâncias. Foi o que aconteceu. As exposições são fruto de pessoas e contextos diferentes, que, provocados pelo tema do Meeting, livremente, se
propuseram fazer este trabalho. Não é uma encomenda que parta de quem planeia o Meeting. ‘Muita observação, e pouco raciocínio, conduz à verdade’. No fundo o nosso desejo é que o Meeting seja um momento de muita observação, que depois concertado com as várias experiências e confrontado com o real leva a esta experiência de encontro.
A Aura tem uma vida cheia de solicitações e afazeres, mas ainda consegue disponibilidade para fazer o Meeting. Porquê e para quê?
Não exageremos. Isto é uma família, não é o protagonismo isolado de três ou quatro pessoas. O Meeting só tem sentido se é feito por aqueles que o querem fazer, que dizem que sim a um convite ou se chegam à frente e se oferecem para nele trabalhar. Nosso Senhor decide os talentos que entrega a cada um e se não são postos a render, murcham e viram-se um bocado contra a pessoa. Na minha vida cruzam-se várias circunstâncias e uma delas foi esta aventura de fazer o Meeting. Se isso aconteceu, então só pode ser bom para mim. Parece difícil conciliar, mas se o Senhor me dá estas coisas e me pede isto, então Ele providenciará. E é também essa a experiência que faço no trabalho do Meeting.
Bernardo Cardoso
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