Encontro sobre as "Consequências Antropológicas e Sociais da Inteligência Artificial”
É possível ao Homem viver humanamente sem significado? Esta é, em última análise, a pergunta dramática que a Inteligência Artificial nos coloca hoje.
“Inteligência” é, originalmente, procura de verdade e, portanto, procura de sentido para a vida, de um sentido para lá da vida biológica (aquela que os animais também vivem). A “Inteligência Artificial” (IA) não se preocupa com o sentido, nem com a verdade. Ela — que nos desculpem tratá-la tão pessoalmente — não sabe o que diz, não sabe o significado do que diz; ela preocupa-se simplesmente com a aplicabilidade dos resultados.
Um texto gerado pelo ChatGPT é produzido por um processo estatístico que escolhe uma palavra pela maior probabilidade que tem de aparecer a seguir àquela que lhe é anterior. Deste modo gera frases que, ao serem lidas, veiculam uma mensagem e são passíveis de interpretação. A IA é capaz de fazer previsões (como a palavra que deve vir a seguir) pela enorme aptidão que tem em descobrir padrões. Ela usa essa aptidão para responder com eficácia ao que lhe é perguntado.
Quando, como se prevê, a IA conseguir responder a todas as perguntas que podem ser respondidas por essa mecânica, terá ainda ficado alguma pergunta, estritamente humana, por responder? ou uma pessoa poderá considerar-se totalmente satisfeita? Se assim for, a máquina da IA terá substituído integralmente a humanidade (enquanto qualidade humana). Então, muitos dos efeitos disruptivos, utópicos e distópicos, que se antevê que a IA traga, dependem de como cada pessoa se vê a si própria.
Um exemplo: fazer uma obra de Arquitetura é entendido como a resolução de um problema funcional num dado espaço, acrescentando valor estético. Ora o problema funcional, é fácil de ver, poderá ser resolvido com muito mais eficácia pela IA do que por um humano. E, sendo que a carga estética é hoje correntemente entendida como a produção de algo novo e surpreendente, isso a IA, conhecendo tudo o que foi feito e sendo capaz de fazer associações livres, também consegue fazer eficientemente. A profissão do arquitecto tende pois para a extinção. A menos que aquele entendimento de Arquitetura não corresponda às verdadeiras necessidades do ser humano — seja uma definição imperfeita apesar de operativa. Se, por outro lado, a Arquitetura for entendida como geração de ambientes de tal modo acolhedores e envolventes, que permitem ao ‘eu’ encontrar-se consigo mesmo — como acontece nos Jerónimos ou no Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian — a isso a IA terá dificuldade em corresponder, na medida em que não sabe o que é o ‘eu’ encontrar-se consigo próprio. (Nós sabemos quando isso acontece, mas temos dificuldade em definir o que isso é; além de que também sabemos que esses acontecimentos não se dão segundo um padrão e são variáveis de indivíduo para indivíduo). Consequentemente a Arquitetura terá sofrido um aprimoramento, indirectamente graças à introdução da IA.
É com este tipo de questões que o encontro de Domingo, às 12.00, na Cantina Velha da Universidade de Lisboa, se enfrenta. Para isso convidámos profissionais de várias áreas — Ciências da Saúde, Indústria, Economia e Ciências da Educação — a responder a duas perguntas: 1) o que é que a IA já consegue fazer e que alterações trouxe a sua introdução nestas áreas? 2) o que se consegue extrapolar que a IA venha a conseguir fazer nessas profissões, e que consequências, ao nível do pensamento sobre si e ao nível do relacionamento com os outros, isso poderá vir a ter?
Pedro Abreu
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