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D. Paolo Pezzi: “Não reduzir o desejo a algo mais pequeno do que o horizonte infinito que o constitui.”

Atualizado: 19 de out.


No passado dia 8 de outubro, em São Mamede, na Casa Luísa Andaluz – Centro de Conhecimento, teve lugar a Apresentação do Meeting Lisboa 2025 com o título “Diz-me o que desejas, dir-te-ei quem és”, retirado de um conto do autor russo Anton Chekhov. O arcebispo de Moscovo, D. Paolo Pezzi, falou sobre o desejo partindo desta frase do autor: “Chekhov começa por dizer que também ele tem diversos desejos, sobe-lhe à cabeça a ideia de procurar “outro”, precisa de “mais”, não é suficiente prolongar a vita. E depois?, pergunta-se Chekhov. Então a questão está em, antes de mais, não reduzir o desejo a algo mais pequeno do que o horizonte infinito que o constitui.”

 

Usando uma imagem de don Luigi Giussani, Paolo Pezzi explica o desejo deste modo: “falava de um rapaz que tinha sido levado para uma ilha deserta por uma tempestade. Tornando-se homem, sente em si um certo desejo: o desejo de amar e de ser amado, o desejo de alguma coisa maior. Na ilha, há uma bananeira e, então, ele associa a banana a este desejo. Mas dá-se conta de que a banana não lhe chega... então, olha para a lua, que tem a forma de uma grande banana, a lua impressiona-o, atrai-o, mas está longe e portanto é impossível chegar lá. Um belo dia, o nosso jovem vê um barco ao longe, que também tem a forma de uma banana e quando se aproxima o homem vê alguém na barca, que ele não podia imaginar: é uma bela rapariga”.

 

Para o Arcebispo de Moscovo, esta história não está distante do relato da Criação do homem e da mulher no Génesis. O homem é dono da criação, dá nome aos animais, às plantas, às estrelas e, ainda assim, não está satisfeito e o seu desejo não se apaga, nem com Deus presente na sua vida! É preciso que o Mistério se faça carne da sua carne, mantendo uma sua alteridade.

 

Nos dias que a Europa vive, D. Paolo Pezzi afirma que o desejo da paz é um desejo sacrossanto, sempre posto à prova. A paz que Cristo dá, não é a paz que o mundo dá. Citando o rabino de Jerusalém logo após o início do conflito na faixa de Gaza, David Grossman quando diz que “Fazer a guerra é mais fácil do que fazer a paz”.

 

Existe também uma tentação de reduzir o desejo, que por natureza é infinito, e as ideologias, totalitarismos e a política surgem como tentativas de resposta. A tentação, para Pezzi, está sempre à espreita. “Mais forte do que a nossa queda, é a Sua misericórdia, se olho para o Seu rosto.”

 

O Arcebispo de Moscovo falou de uma citação de Etty Hilesum, uma mulher judia, morta nos campos de concentração aos 29 anos: “Acreditam que eu não veja o arame farpado e os fornos crematórios, que não veja o domínio da morte? Sim, mas vejo também um pedaço de céu, e este pedaço de céu tenho-o no coração, eu vejo liberdade e beleza”. Etty Hilesum, segundo Pezzi, foi uma ‘presença desarmada’ e a sua única força era o desejo infinito de bondade, de beleza, de paz, algo que a fazia ser “amiga” de todos no lager nazi.

 

D. Paolo Pezzi concluiu este encontro com algumas palavras do Papa Leão XIV de uma audiência geral do dia 1 de outubro[1]: Às vezes, preferimos esconder a nossa dificuldade em perdoar, para não parecer vulneráveis e não correr o risco de sofrer novamente. Jesus não! Ele oferece as suas chagas como garantia de perdão. E mostra que a ressurreição não é o anulamento do passado, mas a sua transfiguração em esperança de misericórdia”


Ricardo Formigo

 

 
 
 

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